Publicado em 31/08/2006 11:56

O dia em que dancei com JK

Os 30 anos da morte de Juscelino Kubitschek de Oliveira são lembrados pela população.

Anos 60... anos dourados... quantas lembranças. Bailes de formatura alimentavam nossos devaneios. Camisas, volta ao mundo, saias de tergal conjuntos em ban-lon e calças jeans invadiam nosso vestuário, deixando para trás os vestidos rodados e anáguas engomadas. Reforma agrária, justiça social, Marx, Sartre e Simone de Beuvoir invadiam as idéias, alimentando projetos de transformação social, de liberdade, de justiça e igualdade entre povos, gêneros e gerações.
Rock anda rool, Beatles, Bossa Nova, Jovem Guarda se sucedem num turbilhão de ritmos e personagens que transformam para sempre os padrões musicais de uma época. Termos como engajamento,  politização, militância e alienação invadem o vocabulário cotidiano, rotulando e estigmatizando movimentos, pessoas, a arte e a literatura. Quanta riqueza, quantos ideais, quanta esperança, quanta ingenuidade! Nesse contexto, resgato "o dia em que dancei com JK", um desses registros indeléveis de minha memória de adolescente e que emerge estimulado pela série de Maria Adelaide Amaral.

 
Estávamos no ano de 1961e Juscelino fora a Inhumas, interior de Goiás, cidade onde nasci e morava, em plena campanha para o Senado Federal. Acompanhava-o uma equipe de jornalistas de Goiânia, políticos e o então governador de Goiás, Dr. José Feliciano de Almeida. Juscelino candidatara-se ao senado pelo PSD e por Goiás, e minha família teve um importante papel em sua recepção: no comício popular, que teve como palanque a carroceria de um caminhão, meu irmão, Cristiano, então jovem idealista e militante estudantil, falou em nome dos estudantes inhumenses; meu pai, também Cristiano, era médico e, seguindo uma tendência dos médicos de sua geração, tal como Juscelino, fora conduzido à militância política. Atuante na política local, era secretário do partido e recepcionou o ex-presidente, falando em nome do diretório local do PSD. Desse modo, como era natural, estava eu tremendamente excitada com a movimentação em torno da visita de JK, figura de lendária simpatia e inquestionável carisma.

 
Terminado  o comício, JK foi recepcionado na casa do senhor João Sahium, comerciante e fazendeiro de orgem árabe, chefe de tradicional família de Inhumas. Foi aí, na casa de João Sahium, que minha mãe, Margarida, fez um discurso que emocionou o presidente ao evocar a figura de dona Júlia, mãe de JK que, como já é do domínio da história, teve uma importância fundamental na trajetória do menino pobre que, de Diamantina, chegou à Presidência do País. Na casa de João Sahium havia uma sala bem grande para os padrões do interior goiano e, ao som de boleros e valsas, JK dançou com algumas moças. Eu, adolescente ainda, mereci a atenção do presidente que,  fazendo jus à sua fama de homem gentil e cavalheiro, dançou uma valsa comigo.

 
Imaginem como isso repercutiu na adolescente interiorana de então! Após a dança, registramos o evento em uma fotografia, com JK ao centro, minha família e mais algumas pessoas de Inhumas ledeando a ilustre figura.

 
Todo o encantamento desse dia ficou gravado em minha memória como o símbolo de uma época de esperança e de idealismo que o golpe militar enterrou definitivamente  no Brasil. Os anos que se sucederam foram anos que sepultaram a magia dos anos JK, magia que, para mim, teve seu momento especial ali, naqueles passos de valsa que troquei com o presidente. Toda minha vivência posterior, a formação profissional e o exercício da vida acadêmica, não foram capazes de apagar a magia daquele momento que ficou registrado em minha memória de adolescente, como "o dia em que dancei com JK". (Maria Cristina Teixeira Machado - é socióloga)

 

(NOTA  DA REDAÇÃO: a autora é inhumense, radicada em Goiânia e filha do saudoso Cristiano Teixeira Machado, médico pioneiro de Inhumas. Essa crônica foi publicada recentemente no Jornal O Popular)

 

JK EM INHUMAS

 
Os 30 anos da morte de Juscelino Kubitschek de Oliveira (foto de arquivo), ocorrida dia 22 de agosto de 1976, são lembrados pela população, também rastreando sua passagem por Inhumas, onde pernoitou na residência do senhor João Jorge Sahium e participou de um baile. Ano 1961, quando ele foi candidato a senador por Goiás e havia cumprido mandato de Presidente da República. Foi eleito a senador com grande margem de votos e depois cassado pela Revolução da ditadura militar.

 
Incluindo também no contexto a importância dos goianos na construção de Brasília e o fato de Juscelino ter sido senador por Goiás, depois sendo substituído no Congresso Nacional pelo inhumense João Abrahão Sobrinho, eleito na eleição seguinte.

 
Assim, a chance de conhecer um pouco do presidente mais popular que o País já teve. Para alguns, o melhor de todos, o mais simples, o mais simpático, o que mergulhou o Brasil num clima de otimismo, progresso e esperança. Tudo para Juscelino Kubitschek era superlativo. Seus admiradores não economizaram adjetivos.

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