Sentimento da Música Caipira
Compreende-se por música caipira ou música sertaneja de raiz, aquela que, a princípio, foi produzida na região Centro-Sul do País e que está preocupada em retratar a vida cotidiana, os amores, as labutas do homem do campo, do homem sertanejo.
Entre os Estados brasileiros, o que mais recebeu imigrantes portugueses, italianos e espanhóis foi o Estado de São Paulo. Tudo isso foi devido ao ciclo do café no Brasil, sendo o Estado o maior produtor de café nesse período. Esses povos que aqui chegaram trouxeram sua cultura, que veio se juntar com os costumes e tradições dos negros e índios qua já habitavam o Brasil, proporcionando, assim, um hibridismo cultural, ou seja, a junção de duas ou mais culturas, dando origem a uma terceira. Tendo em vista esta análise, Wanderley Caldas (1999) coloca que: "Dança e canções como o recortado, folia do divino, cana-verde, fofa, chula, dança de são Gonçalo (português), conga, batuque, lundu (africanas), cururu, catira ou cateretê (indígena), a tarantela (italiana), o fandango (espanhol)".
Wanderley Caldas analisa que esses ritmos fazem parte do universo lúdico do homem do campo paulista. Essa diversidade cultural de danças e ritmos musicais que foram introduzidas no Brasil, em diferentes épocas, juntamente com as transformações que sofreram, deram origem à chamada música caipira ou sertaneja de raiz.
É tido como caipira esse homem do interior, de vida simples e campesina, que tem sua labuta diária de trabalho árduo e que vive longe do conforto propicionado pelo desenvolvimento urbano. Mas essa realidade vai mudar, porque no século XX, o homem do campo muda de forma significativa a sua realidade com a modernidade que chega à vida do homem campesino.
Rosa Niponuceno mosta parte dessa tansformação quando observa lamento alheio: "Andei por aquelas terra do interior paulista, mineiro e fluminense) e não encontrei senão vestígio do nosso homem do mato. Quando releio o que escrevi em 1910 sobre ele e o confronto com a realidade de hoje, fico triste. O automóvel, o telefone, o rádio invadirão as fazendas e sítios. Acho que são os meios mais rápidos de comunicação que tiraram o encanto da roça", queixou-se o jornalista Galião Coutinho, em 1942 (Galião).
Com isso a música caipira que retrata o universo lúdico desse homem do campo passa a ter duas vertentes, uma que ainda retrata a realidade cotidiana do campo, valorizando os seus amores, costume e moral. Mas passa a ser também um saudosismo da vida passada antes da tecnologia invadir o campo. Portanto, as transformações na música caipira permanecem vivas na realidade do homem do campo.
Porém, ser caipira não é simplesmente tocar viola ou cantar em terço, no entanto, o artista do interior pode escolher manter a tradição ou seguir por outro caminho. Mas, a tradição no meio rural ainda é grande, devido a muitos artistas aprenderem com seus pais a tocar a viola, que é considerado o instrumento da música caipira. Mas, para o caipira, a magia de tocar esse instrumento não é para qualquer um, porque ultrapassa os limites e torna-se uma coisa de destino, de alma.
Para o sertanejo, esse instrumento musical tem um significado bem maior do que aparenta; a viola é a alma da música caipíra. Ser violeiro é um privilégio de poucos; o violeiro é respeitado e idolatrado no meio sertanejo, e sempre convidado para as festas e é tratado com uma certa regalia. Ele arranca os suspiros das caboclas e é tido por elas como um bom partido como alguém que tem futuro. (fonte: XII Semana de História - Relatos orais como fonte histórica. Mauro Guimaães de Oliveira Júnior (Org.)
Notícia publicada no Jornal O Goianão ano 33, n. 480 página 4.