Césio-137: O brilho da morte.
O mais grave acidente radioativo da história do Brasil completa 30 anos.
O mais grave acidente radioativo da história do Brasil. O que parecia apenas lixo era algo muito mais perigoso. Nada poderia ser mais arriscado do que abrir aquela cápsula. Em meio a quilos de sucata, uma ameaça. O resultado: vidas roubadas.
Presente em um equipamento de radioterapia para tratar pacientes vítimas do câncer, o pó radioativo Césio 137, espalhou por Goiânia (GO) muito pânico e desespero. O desastre completa 30 anos, quando Wagner Mota Pereira e Roberto Santos Alves acharam a máquina que chegava a pesar 300 kg, entre as sobras do antigo Instituto Goiano de Radioterapia.
A cápsula contendo o Césio 137 acabou indo parar no ferro velho de Devair Ferreira, que se encantou com a cor e brilho da substância, achando que era algo que poderia ter algum valor. Depois de desmontar o aparelho a golpes de marreta, Devair fez questão de mostrar a novidade para a esposa, Maria Gabriela, e todos os outros familiares e conhecidos. Dias depois, todos que tiveram contato com o pó começaram a sofrer com náuseas, vômitos, tontura e diarreia, mas ninguém sequer imaginou que o mal-estar tinha algo a ver com o aquele pó tão reluzente. Devair e Maria, por exemplo, pensaram que os sintomas eram devido a uma feijoada que haviam ingerido.
O irmão de Devair, Ivo Ferreira, ficou tão impressionado que acabou levando um pouco do pó para sua filha de 6 anos, Leide das Neves. A garota brincou com o pó e depois comeu pão com as mãos sujas, o que fez com que ela ingerisse parte da substância radioativa durante a refeição. Logo depois, Leide também passou mal.
Foi o olhar atento de Maria Gabriela que fez com que ela percebesse que todo que tiveram contato com o pó, estavam se sentindo mal. A desconfiança da esposa de Devair, fizeram com que ele, mais um funcionário do ferro-velho levasse a capsula até a Vigilância Sanitária para que o problema fosse identificado. A peça foi transportada de ônibus, contaminando assim ainda mais pessoas no trajeto. Além disso, a peça ficou dois dias exposta em cima de uma cadeira na Vigilância.
Diante da falta de informação e do descarte inadequado do equipamento foi só em 29 de setembro de 1987, que um físico que visitava a cidade na época desconfiou do aparelho e levantou a suspeita de que ele poderia ser uma fonte de radiação. A partir daí, o que antes era apenas um pó azul brilhante dentro de uma cápsula se transformou em uma tragédia radioativa.
A população foi orientada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), que montaram um esquema de triagem no Estádio Olímpico. Durante a descontaminação, cerca de 112 mil pessoas foram colocadas em quarentena e banhadas constantemente com utilização de esfregão. Sete pontos de Goiânia que foram evacuados na época do acidente por causa do alto índice de radiação.
Cerca de 6 mil toneladas de material contaminado estão enterradas em duas enormes caixas de concreto para um depósito especial, localizado no município de em Abadia de Goiás, 23,3 km da capital Goiânia. Agentes da comissão, policiais e bombeiros também ficaram encarregados de destruir os utensílios pessoais das pessoas que tiveram contato com o pó, uma vez que esses objetos estavam igualmente contaminados.
Irmão de Devair e de Ivo, Odesson Alves Ferreira, foi a última pessoa a sair da quarentena.
Quarenta e nove pacientes vítimas da radiação do césio 137 foram levadas para o Rio de Janeiro, onde foram tratados no Hospital Naval Marcílio Dias, referência no tratamento de vítimas de acidentes radioativos. Vinte e um desses pacientes passaram por tratamento intensivo. Foram registradas oficialmente quatro mortes causadas pelo césio-137. A primeira delas foi a filha do Ivo Alves Ferreira, a menina Leide das Neves Ferreira, que morreu em 23 de outubro de 1987. Maria Gabriela Ferreira, de 37 anos, esposa de Devair também morreu no mesmo dia.
No dia 27 de outubro, um dos funcionários do ferro-velho, Israel Batista dos Santos, de 20 anos foi mais uma vítima da tragédia. No dia seguinte, outro funcionário do mesmo ferro-velho, Admilson Alves de Souza, de 18 anos, foi o quarto a vir a óbito, devido à contaminação. As vítimas foram sepultadas um caixão especial revestido com chumbo para evitar a propagação da radiação.
No âmbito radioativo, o acidente foi o 2° maior da história, atrás apenas do acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia. O césio 137 é um isótopo radioativo resultante da fissão nuclear de urânio ou plutônio, que ao se desintegrar dá origem ao bário 137m, quando o composto passa a emitir radiações gama. Estes raios possuem um alto poder de penetração, o que provoca um alto risco à saúde com intoxicação pela radiação e doenças graves, como câncer. O césio-137 apresenta uma meia-vida de cerca de 30 anos e é usado, sobretudo, em aplicações médicas, industriais e hidrológicas.
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