Loucos e loucos
Passado o processo eleitoral, é momento de retomarmos os debates afastados da política partidária
Apesar da enfadonha discussão promovida pelos dois candidatos ao governo do Estado de Goiás em estabelecer o que é ou deixa de ser novo no tempo, mais precisamente, quem é ou não é do já velho, mas chamado "tempo novo", questões ainda persistem para além do processo eleitoral, para além dos discursos de palanque, do debate partidário e, portanto, demandam muita conversa, aliada, obviamente, a urgentes ações na tentativa de cada vez melhor dizer.
Passado o processo eleitoral, é momento de retomarmos os debates, afastados ao máximo possível da política partidária, próximos, porém, e em igual proporção, da política pública. Entre tantas, da política pública de saúde. Assim concorde, vejamos.
No debate político/partidário foi fácil para o grupo reeleito acusar o grupo derrotado de cometer a loucura de demolir o Hospital Adalto Botelho. Mais fácil ainda foi para o grupo derrotado alegar em autodefesa que o Adalto Botelho era uma vergonha para os goianos, acusando o grupo adversário da loucura de reivindicar a manutenção da loucura de fazer depósitos humanos.
Entre loucuras, no rumo daquilo que nos interessa: méritos para o grupo autor da loucura que demoliu a vergonha e méritos para o grupo da loucura que erigiu em seguida o orgulho de Goiás: o "C.R.E.R.".
No debate político/público foi, é, e tudo indica que continuará difícil para os dois grupos partidários falar o que de fato se fez e se faz de políticas públicas pela questão psiquiátrica em Goiás.
Será que a ação demolidora, que apagou de nossas vistas (mas não de nossa memória) os procedimentos lunáticos que se ministrava no Adalto Botelho ou a ação construtora que nos enche os olhos (conforta nossa memória) com os procedimentos humanos ministrados no C.R.E.R. deram conta das questões psiquiátricas persistentemente escandalosas em nosso meio?
Apesar da psiquiatria moderna, dos projetos do Governo de Goiás tais como o "Louco Infrator", das "Casas do Caminho e de Eurípedes" da vida, dos CAPS enfim, apesar de tanto, os sintomas psiquiátricos têm lugar? Não estariam ainda amordaçados, isolados, evitados, fazendo de seus portadores pessoas rejeitadas por seus familiares? Esses familiares não padecem cada vez mais de doenças relacionadas ao padecimento de seus doentes, levando todos à uma vida, por conseguinte à uma morte, implacavelmente despida de dignidade?
Não se precisa qual loucura é mais violenta, desumana. A de parentes carcereiros ou pacientes encarcerados? Aliás, não se sabe quem encarcera, quem é encarcerado. Implodiram um hospício em Goiânia. A implosão aconteceu também nas casas dos internos? E, o que fazer pós-implosão?
Não bastasse famílias e sociedade desorientada e desaparelhada para lidar com os pacientes psiquiátricos, poucos são os profissionais de saúde habilitados para a tarefa. Desde os agentes comunitários de saúde (A.C.S.) às supervisoras(es) de suas equipes, ninguém sabe como e o quê orientar de fato aos familiares responsáveis por pacientes psiquiátricos.
Esta situação não seria fruto de uma política pública de saúde persistentemente centralizadora? O que de exeqüível pode ser apresentado pelo Executivo Municipal e Estadual em termos de descentralização de poder e atendimento em saúde pública psiquiátrica? É importante fechar e demolir as falsas casas particulares de acolhimento existentes em Inhumas? Claro que é. Mas, o que se oferecerá em seguida? Futuras instalações de depósitos estatizados?
Há dois anos o atual Executivo Municipal propunha, equivocadamente, abertura de Hospitais de Ginecologia. Ficaria longe de propor também hospitais psiquiátricos? Afinal de contas, por que equívocos dessa natureza ocorrem? Culpa dos interesses eleitoreiros ou de nossas posturas exclusivamente curativas, na verdade?
As eleições passam, os debates permanecem. Estamos apenas começando.
No debate político/partidário foi fácil para o grupo reeleito acusar o grupo derrotado de cometer a loucura de demolir o Hospital Adalto Botelho. Mais fácil ainda foi para o grupo derrotado alegar em autodefesa que o Adalto Botelho era uma vergonha para os goianos, acusando o grupo adversário da loucura de reivindicar a manutenção da loucura de fazer depósitos humanos.
Entre loucuras, no rumo daquilo que nos interessa: méritos para o grupo autor da loucura que demoliu a vergonha e méritos para o grupo da loucura que erigiu em seguida o orgulho de Goiás: o "C.R.E.R.".
No debate político/público foi, é, e tudo indica que continuará difícil para os dois grupos partidários falar o que de fato se fez e se faz de políticas públicas pela questão psiquiátrica em Goiás.
Será que a ação demolidora, que apagou de nossas vistas (mas não de nossa memória) os procedimentos lunáticos que se ministrava no Adalto Botelho ou a ação construtora que nos enche os olhos (conforta nossa memória) com os procedimentos humanos ministrados no C.R.E.R. deram conta das questões psiquiátricas persistentemente escandalosas em nosso meio?
Apesar da psiquiatria moderna, dos projetos do Governo de Goiás tais como o "Louco Infrator", das "Casas do Caminho e de Eurípedes" da vida, dos CAPS enfim, apesar de tanto, os sintomas psiquiátricos têm lugar? Não estariam ainda amordaçados, isolados, evitados, fazendo de seus portadores pessoas rejeitadas por seus familiares? Esses familiares não padecem cada vez mais de doenças relacionadas ao padecimento de seus doentes, levando todos à uma vida, por conseguinte à uma morte, implacavelmente despida de dignidade?
Não se precisa qual loucura é mais violenta, desumana. A de parentes carcereiros ou pacientes encarcerados? Aliás, não se sabe quem encarcera, quem é encarcerado. Implodiram um hospício em Goiânia. A implosão aconteceu também nas casas dos internos? E, o que fazer pós-implosão?
Não bastasse famílias e sociedade desorientada e desaparelhada para lidar com os pacientes psiquiátricos, poucos são os profissionais de saúde habilitados para a tarefa. Desde os agentes comunitários de saúde (A.C.S.) às supervisoras(es) de suas equipes, ninguém sabe como e o quê orientar de fato aos familiares responsáveis por pacientes psiquiátricos.
Esta situação não seria fruto de uma política pública de saúde persistentemente centralizadora? O que de exeqüível pode ser apresentado pelo Executivo Municipal e Estadual em termos de descentralização de poder e atendimento em saúde pública psiquiátrica? É importante fechar e demolir as falsas casas particulares de acolhimento existentes em Inhumas? Claro que é. Mas, o que se oferecerá em seguida? Futuras instalações de depósitos estatizados?
Há dois anos o atual Executivo Municipal propunha, equivocadamente, abertura de Hospitais de Ginecologia. Ficaria longe de propor também hospitais psiquiátricos? Afinal de contas, por que equívocos dessa natureza ocorrem? Culpa dos interesses eleitoreiros ou de nossas posturas exclusivamente curativas, na verdade?
As eleições passam, os debates permanecem. Estamos apenas começando.
Cristiano M. da Silva
graduado em psicologia pela UCG – 1999
psicólogo em PSF de 2001 a 2004
Integrante da primeira equipe Estadual do CEPSaúde de elaboração da 1ª grade curricular dos Agentes Comunitários de Saúde de Goiás - 2003.
Prêmio Estadual de equipes multiprofissionais em Políticas Públicas e Autonomia Comunitária - 2004
criscorreio@hotmail.com
graduado em psicologia pela UCG – 1999
psicólogo em PSF de 2001 a 2004
Integrante da primeira equipe Estadual do CEPSaúde de elaboração da 1ª grade curricular dos Agentes Comunitários de Saúde de Goiás - 2003.
Prêmio Estadual de equipes multiprofissionais em Políticas Públicas e Autonomia Comunitária - 2004
criscorreio@hotmail.com
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